enata Paschoalini, aluna do segundo ano de pedagogia nas Faculdades
Integradas da cidade de Jaú, São Paulo, realizou esta entrevista, via
web, com
Elizabet Dias de Sá para um trabalho escolar.
P. O que é educação inclusiva?
R. É a educação para todos, isto é a educação que
visa reverter o percurso da exclusão, ao criar condições, estruturas e
espaços para uma
diversidade de educandos. Assim, a escola será inclusiva quando
conseguir transformar não apenas a rede física, mas, a postura, as
atitudes e as
mentalidades dos educadores e da comunidade escolar em geral para
aprender a lidar com o heterogêneo e conviver naturalmente com as
diferenças. Sugiro
que você leia o livro "pensando e fazendo educação de qualidade": org:
Maria Teresa Egler Mantoan, Editora Moderna, São Paulo, 2001.
A sinopse deste livro encontra-se disponível no "Banco de Escola", cujos endereços são:
http://intervox.nce.ufrj.br/~elizabet e www.bancodeescola.com.
P. Como se constrói uma sociedade inclusiva? O que muda na vida educacional daqui para frente?
R. Com muita luta, labuta, tensões, conflitos,
movimentos reivindicatórios organizados e desorganizados, insistência,
persistência,
atividades...É preciso fazer o possível e o impossível no plano pessoal e
coletivo. É preciso identificar os projetos inovadores e combater os
reacionários. É necessário identificar contradições, paradoxos e
promover rupturas. É preciso sonhar, enfrentar pesadelos, superar o
conformismo e não
desistir da utopia. Não compreendi bem a segunda parte da pergunta.
Creio que o contexto de conquistas legais, os avanços tecnológicos e as
novas
concepções no campo pedagógico, assim como a assimilação da educação
como direito impõem uma mudança irreversível em relação aos modelos e
parâmetros
de educação escolar. Assim, os profissionais necessitam rever a ação
pedagógica, produzir e assimilar novos conhecimentos para fazer frente
às
exigências da atualidade.
P. Fala- se muito também na integração do portador de deficiência. Existe diferença entre inclusão e integração?
R. Teoricamente, a integração pressupõe a adaptação
do aluno à escola ou do sujeito à sociedade na qual está inserido. A
inclusão parte do
princípio de que a escola e a sociedade em geral é que devem ser
transformadas para adaptar-se às necessidades de todos e de cada um. Por
exemplo, uma
criança com deficiência deve apresentar determinadas condições para ser
integrada em uma escola comum. No caso da inclusão, é a escola que deve
responder às necessidades específicas desta criança. O mesmo acontece
com a sociedade que deve criar condições para responder às necessidades
de todos
e de cada um dos cidadãos. Caso contrário, uma pessoa que usa cadeira de
rodas pode usá-la, mas, ela não entra nos ônibus e nos prédios
públicos; uma
pessoa cega domina bem o braille, a bengala e mesmo o computador e não
tem como utilizar-se destes recursos nos espaços freqüentados pelas
demais
pessoas; uma pessoa surda sabe comunicar-se por meio da Língua
Brasileira de Sinais-LIBRAS e fica condicionada a comunicar-se somente
com seus pares
surdos ou com os profissionais e familiares que conhecem a LIBRAS. E o
que dizer das pessoas com paralisia cerebral, síndrome de Down, nanismo
entre
outras?
P. Que tipo de ação pode ser sugerida, no sentido de tornar eficaz a inclusão do aluno com deficiência na escola regular?
R. Que as leis e prioridades sejam devidamente
cumpridas e os investimentos aplicados com equidade, justiça, eficiência
e agilidade; que os
educadores, pais, especialistas etc concebam a inclusão como um direito e
como um dever e não como uma imposição, um "carma" ou um pesadelo; que a
matrícula seja assegurada ao aluno com deficiência e a escola
providencie as condições para incluí-lo; que se invista prioritariamente
na formação em
serviço dos educadores na perspectiva da inclusão escolar...
P. Onde se encontram as principais resistências no sentido de se conseguir uma efetiva inclusão?
R. Na cabeça dos governantes e dos governados em geral. Sugiro que leia no "Banco de Escola" alguns textos sobre o tema. http//intervox.nce.ufrj.br/~elizabet ou em
www.bancodeescola.com.
P. Uma das grandes barreiras a serem derrubadas está nos preconceitos em relação ao tema. Como você vê o problema?
R. Por um lado, o tema da inclusão vem se tornando
um discurso fácil e pasteurizado. Por vezes, é tratado de forma
simplista e artificial
como uma panacéia para todos os males. Por outro lado, é uma prática
difícil e trabalhosa, o que justifica a resistência por parte de alguns.
Geralmente, isto ocorre com todo conhecimento ou teoria nova que, ao
serem difundidos, costumam ser banalizados, deturpados ou descartados.
Existe um
intrincado jogo de interesses e de relações de poder por trás do
preconceito e da resistência, sendo difícil romper com o conservadorismo
e com o
"status quo" das diversas forças atuantes neste processo.
P. Qual a vantagem para um aluno sem deficiência estudar ao lado de uma criança com deficiência?
R. Ele terá a oportunidade de vivenciar um conflito,
de confrontar valores, praticar a cooperação e solidariedade. Vai
crescer sabendo que
existem pessoas de todo o tipo no mundo e que estas pessoas têm
necessidades, condições e habilidades diferentes das suas. Poderá
aprender a lidar com
a diferença e naturalizá-la em seu convívio diário. Assim, talvez, no
futuro, não estranhe tanto a presença de uma pessoa com deficiência ao
seu lado.
P. O conhecido "quociente intelectual" não é
mais suficiente? Por que hoje se fala tanto na "inteligência emocional"?
Qual importância
disto para nossa vida?
R. O chamado "QI" (quociente intelectual) não é
suficiente, nem necessário, assim como o "quociente emocional" é outra
banalização. Talvez,
a "inteligência emocional" seja mais uma teoria supérflua que apresenta
respostas simples para dilemas e problemas complexos.
P. Como a convivência entre as pessoas diferentes pode contribuir para as inteligências que cada um de nós possui?
R. Ao expandirmos o horizonte de nossas experiências, cultivamos a nossa capacidade de entendimento e a elasticidade de nossa(s)
inteligência(s) a serviço do bem ou do mal.
P. O professor está preparado para a inclusão?
R. Não! Ele está preparado para excluir e ser
excluído, pois foi o que aprendeu em sua trajetória e em sua formação.
Os educadores foram e
ainda são formados por instituições ou agências de formação seletivas ou
excludentes. Por isso, não podemos esperar que estejam preparados e sim
que
sejam preparados no exercício de suas atividades.
http://www.bancodeescola.com/entrevis.htm
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